Setember

   

   Meu cabelo estava cheirando cigarro que nem fumei. Meus olhos irritados e meu coração impaciente. "O que foi? Você tá estranha", e perdi as contas de quantas vezes ouvira isso naquelas semanas.
   Lembrei daquele dia que atravessei uma ponte de mãos dadas, ou aquele dia que abracei uma amiga e rimos feito loucas, e daquela vez que briguei com a pessoa que mais gostava por ela não comer direito. Eu sempre dei muito de mim e sempre quis todos em minha vida. Eu acho que sempre sou a que ama mais. Sempre quero agradar mais e quero a pessoa só pra mim. Quero cuidar, quero o melhor. Deve ser coisa minha.

   Eu, mesmo que empoderada, crendo que não preciso de homem, mina, ou o que seja, acabo ficando triste. Deve ser coisa de pisciana mal compreendida. 

   Meu cabelo continuava cheirado cigarro e me dei conta que estava olhando para o nada, já sozinha, e pensando em tudo. Olhei pras minhas mãos, mexi na franja, e voltei pra casa. Pra cama. Tentei dormir mas lembrei de uma vez que estava com um de muitos "lovers" que tive, e erramos a linha do metrô e o maldito fez uma pergunta de localização um tanto quanto tosca para alguém que passava e eu caí na risada. Ele também.
   "Ana, você precisa dormir", pensei. "Vocês não se falam mais, olha o que ele/ela fez! Esquece, ignora, saia com outras pessoas!" Minha mente me lembrou quando já estava indo ao celular chamar a pessoa para conversar. Doeu. Doeu muito e pensei que talvez tivesse sido melhor não chamar mesmo. Deve ser coisa minha. A pessoa não se importa, me ignora, me maltrata, não é mais minha amiga, não é mais nada, mas ainda quero dar carinho e receber amor da mesma. Bom, para encurtar essa novela, perguntei-me "Não preciso de alguém que não precisa de mim, certo?" 
   E eis que acabei dormindo e sonhando com ciclano, beltrano e fulano. Acordei emputecida. Chateada. Chorosa. "Vá lá procurar novas pessoas, saia dessa cama." Tudo bem. Saí. Conheci mais outros beltranos, ciclano e fulanos. Uns me ouviram,  outros me beijaram, e todos sumiram. Eles não eram quem queria que fossem, mas nem se papai Noel existisse estes seriam meus de novo.
   Talvez se eu fosse menos louca e pegajosa, se fosse mais bonita e mais carismática. Se eu não desse 100% de mim sempre e amasse com todo meu coração, e não quisesse compartilhar tudo da minha vida para as minhas amigas, e não ficasse chateada se elas não fizessem o mesmo. Talvez se eu não fosse eu, eles me quisessem de volta.


Comentários

Postagens mais visitadas