Quebrei
Quando criança quebrei uma porcelana cara dos meus pais. Meu pai ficou puto e me bateu por isso. Não tinha conserto, não tinha remendo, igual à mim. Foi pro lixo, não tinha porque continuar com aquilo, igual como as pessoas fazem comigo.
Eu quebrei de propósito aquele negócio, queria atenção deles. E dói saber que nunca fui mais amada como naquela época de criança. Nunca fui tão feliz. Hoje eu ainda quebro tudo que toco, às vezes de propósito, me autosaboto. Destruí minha relação com minha família, amigos e até namorados. Destruí tudo por achar que não sou capaz de amar e por achar que não mereço receber amor de ninguém.
Hoje fecho meus olhos e imagino meus dias felizes e choro até dormir porque sei que nunca mais terei uma vida sem angústia como aquela. Nunca mais. Nunca mais ninguém vai me repreender por ter quebrado algo e ainda assim me amar incondicionalmente.
Meu pai morreu. Pra minha mãe eu sou um fardo. Gostaria de poder consertar tudo, consertar as vidas que quebrei. Consertar à mim mesma, mesmo que fique imperfeita com os remendos. Mas, por mais que eu tente, não consigo. Eu só continuarei me quebrando cada vez mais até não sobrar nada.
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