Hiato


   Meus olhos caem de tanto cansaço. Minhas mãos tremem, minha cabeça deita nas tuas, cansada demais de tudo isso. Você me faz carinho, não só com as mãos, mas com suas poucas palavras. Não precisamos dizer muita coisa, o silêncio já diz muito. Os meus olhos já dizem muito. Minha boca não serve de nada, além de rir das suas piadas. Minhas bochechas ficam doloridas de tanto que rio, bobamente, alegremente. Meu cansaço vai embora por alguns momentos. Não queria que nada disso acabasse, mas sei que vai, e que tenho que me desapegar. Ou nem me apegar, mas às vezes é inevitável demais. Quando menos vejo estou nos seus braços, perdida, procurando pelo conforto e a direção que encontro só em você. Querendo um refúgio de tudo que fica entre nós e que está nos separando. Nos levando pra um hiato que talvez não tenha fim. 
   Você pode fingir não saber, mas no fundo sabe, e eu sei que no fundo eu sei também. Mas palavras não tem muita utilidade mais. Ou têm?
   E  até mesmo o nosso tempo vazio com poucas palavras ditas, está ficando entre a gente. E ainda o medo, principalmente, o medo de olhar nos olhos e já não ver mais os detalhes. O medo de olhar nos olhos e não conhece-los mais. Olhar pra olhos estranhos, vazios, que um dia já foram cheios de tudo. Cheios de amor e carinho.
   E o medo de perder tudo o que há. O medo nunca realmente vai.
   O medo já é tudo o que restou de nós.
   No fundo você sabe. No fundo eu sei. Mas nenhum de nós vamos dizer.


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